sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Vovó e o ciclista voador


No dia 14 de dezembro de 2008, vovó sofreu acidente. Ela saiu do médico e andava em direção ao ponto de ônibus no momento em que caiu. Caminhando com certa dificuldade em função de seus oitenta e dois aninhos, vovó foi ao chão e, na hora, não soube como. Sua cabeça rodava e por cima dela algo que se parecia com um homem falava desesperadamente:

- Fala comigo! Senhora! Senhora! Fala comigo! Me desculpa! Senhora!!!

Algumas horas depois do acidente, vovó revelou o que sentiu naquele momento: "minha vontade era mandar aquele homem à merda, vai t´a merda! Eu ali no chão com a cabeça doendo e o homem falando! Ah, que saco!

Vovó abriu os olhos e o homem pode respirar aliviado: não morrera. Mas, afinal, de onde veio esse senhor? "Tenho a impressão que ele vinha na contramão. Estava de bicicleta desembestado e aí, como a gente tava entre a rua e um carro estacionado na calçada, ele teve que desviar com a bicicleta em cima de nós. E pior, não foi nem a bicicleta: ele é que voou em cima de mim. A sorte dele é que eu estava ali, se não ele ia se esborrachar todo no chão".

A multidão se avolumava perto da doce velhinha que estava ali estirada no chão. Uma mulher, que mora na mesma rua da vovó e já a conhecia de vista, veio socorrer.

- A senhora mora na rua jordão né? Eu conheço a senhora. Vejo sempre a senhora passar.
- Ah minha filha, me desculpe, mas eu não te conheço não. - Mesmo atordoada vovó manda na lata, como sempre.

E então, começaram a erguer a anciã que, aos poucos, se levantava e recuperava os sentidos. Já sentada e de olhos abertos, vovó continuava a ouvir a enjoada voz do ciclista voador:

- Me perdoa! Me perdoa! Me perdoaaaaaaaa!!!
A conterrânea de vovó se impacientou:
- Ora homem, vai embora! Para de falar bobagem! Sai daqui!

A sobrinha de vovó que, pela denominação, parece jovem, já passou dos sessenta, e acompanhava a tia no momento do tombo: "eu não sei de onde veio aquele homem, meu Deus! De repente a gente caiu." A sexagenária que acompanhava vovó e a segurava pela mão, foi ao chão na mesma hora. Porém, com vinte anos menos, pôde se levantar com mais facilidade.

O mais impressionante da história foi o fato de vovó não ter nem sequer se arranhado. "Fiquei com um galo na cabeça. Ah, que dor." As pernas e as costas também ficaram doloridas. Mas, nada de cortes ou fraturas.

A vovó é dura na queda, não?

Mas e a bicicleta do homem? "Ih, a bicicleta ficou lá toda quebrada. Era uma bicicleta velha também. Quebrou até aquelas coisinhas da calçada." Explica vovó.



Quando contava a história para as pessoas, o tom cômico era imperativo:
- Minha vó foi atropelada.
- Meu Deus! Por um carro?
- Não. Por um homem.
(Risos)


MAKING OFF

Enquanto escrevia esse texto, a tomada em que está ligado o meu computador resolveu se soltar do fio que conduz eletricidade. Tudo bem que é uma gambiarra, mas tinha que acontecer justamente enquanto eu escrevia a história do tombo de vovó? Será que meu avô, que deus o tenha, não gostou da idéia?

2 comentários:

Anônimo disse...

Gente,

a vovó não é mesmo uma estrela?

Ela vai longeeee!

Beijos,

Gabi.

Heder disse...

Já fui atropelado por bicicleta também. Caí na lama, arranhei o braço e também meti a cabeça no chão.

Só que quem pediu perdão fui eu. ¬¬ Atravessei a rua meio que sem olhar.